quinta-feira, 17 de dezembro de 2009


Excerto de algo que nunca terminei...

Foi num dia de neblina cerrada, entrecortada somente por uns ligeiros raios de sol, que os seus olhares se cruzaram e os seus distintos destinos se uniram indelevelmente, ainda que por breves instantes. Ele, de seu nome Leonardo, era um homem simples, que apesar de todos os sonhos que desejava e buscava atingir desde criança, vivia momento a momento, sem se preocupar demais com o que estaria para acontecer no futuro. 
Fazia planos, era certo, mas o grave acidente de que havia sido vítima anos antes, alertara-o para a fragilidade da vida e em consequência tinha-lhe retirado as preocupações com o superficial. 
Acreditava firmemente no amor à primeira vista. Era enfim, um romântico por natureza. 
Ela, de sua graça Mariana, era uma mulher sofisticada que ao contrário dele tinha a sua vida planeada ao mais ínfimo pormenor, quase que presa no seu pequeno mundo, inatingível a todos, até aos seus amigos mais íntimos. Com o que ela não contava, era com aquela intensa troca de olhares, que sem querer a despertou para algo de mais profundo, desviando-lhe por momentos a atenção dos seus planos de “conquista” do mundo. 
O que se passou entre os dois naquele momento e a relação iniciada um mês depois e que durou três meses, nunca foi do conhecimento de ninguém, mas foi o suficiente para alterar a visão romanceada que ele mantinha do amor. 
Nunca antes, em todas as relações que tinha mantido, havia sentido tamanho vazio e sensação de impotência perante uma situação de perda. Não é que ele não tenha conseguido superá-la com o decorrer das águas sob o moinho do tempo, mas foi algo que o fez voltar-se mais para si. 
Numa noite debaixo do luar reflectido no mar, sentado sozinho na praia, enquanto contemplava o que era para ele a mais bela paisagem do mundo, surgiu-lhe algo que ouvira num filme em que se identificava com a personagem principal: “Sem o amargo, o doce não é tão doce.” Apesar do pequeno lampejo de ânimo que esta frase lhe transmitiu, não durou muito, até ele mergulhar no oceano de solidão a que sempre se sentiu ligado. 
Desde os seus dezassete anos que acreditava haver no mundo uma alma gémea para cada um de nós, mas ao aperceber-se que Mariana havia sido só mais uma desilusão no seu percurso amoroso, essa crença começou a desvanecer-se. Aquele dia de Outono, começou como um dia mais, no quotidiano a que ele se tinha habituado. Levantou-se renitente do seu leito de descanso, ainda sem estar preparado para enfrentar o amanhecer.